CICLO REALIZADORA CONVIDADA
MÓNICA DE MIRANDA
Mónica de Miranda é uma artista visual, cineasta e investigadora portuguesa/angolana, cuja prática interdisciplinar e baseada na investigação aborda de forma crítica a convergência entre política, género, memória, espaço e história.
O seu trabalho envolve desenho, instalação, fotografia, filme e som, nas fronteiras entre o documentário e a ficção. Monica investiga estratégias de resistência, geografias do afecto, narrativas e ecologias do cuidado.
É fundadora do Hangar (2014), um centro de arte e investigação em Lisboa. Os programas do Hangar oferecem espaços onde artistas, curadores e investigadores, principalmente do mundo inteiro, podem co-criar e construir redes sociais e criativas para beneficiar as suas comunidades.
O seu trabalho tem sido apresentado em grandes eventos internacionais, tais como: 6ª Bienal de Lubumbashi; 12ª Bienal de Berlim; 12ª Bienal de Dakar; 5ª Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Casablanca; Bamako Encounters – 13ª Bienal Africana de Fotografia; 14ª Bienal de Arquitectura de Veneza; Bienalsur 2021; Houston FotoFest 2022. Exposições individuais e coletivas foram realizadas em: CAIXA Cultural, Rio de Janeiro; Bildmuseet, Umeå; Kadist Art Foundation, Paris; Gulbenkian, Lisboa; MUCEM, Marselha; AfricaMuseum, Tervuren; MAAT, Lisboa; MUAC, Cidade do México; Barbican, Londres; Autograph, Londres; Frac, Nantes; Uppsala Museum, Suécia; MNAC, Lisboa; IC, Luanda, entre outros. O trabalho de Mónica está presente em colecções públicas e privadas de todo o mundo.
Dó
Mónica de Miranda · 2018 · 9’ – 14 out, 17h30
DÓ é uma síntese audiovisual entre uma instalação de vídeo em tela dupla e uma instalação sonora desenvolvida com a colaboração do rapper/compositor musical Português/Cabo-Verdiano Chullage.
O vídeo retrata uma dançarina que contempla a cidade do topo do edifício “Book” em Luanda. Este edifício, que se assemelha a um livro, é um emblema da arquitetura modernista icónica dos anos 1960. O cenário é entrelaçado com som e imagens de uma orquestra de cordas executando uma peça descontínua em múltiplos locais, como espaços em ruínas. Os músicos procuram o acorde correto. “Sinfonia da cidade em uma única nota” (Dó) foi composta na tradição dos filmes sinfónicos de Dziga Vertov (O HOMEM COM A CÂMARA DE FILMAR) e Wim Wenders (AS ASAS DO DESEJO).
O filme de 9 minutos é uma observação da história passada e presente de Luanda e da forma como ela se está a transformar atualmente. Os personagens alternam-se, surgindo como partes integrais do todo ou meros observadores da história.
A Ilha
Mónica de Miranda · 2022 · 38’ – 14 out, 17h30
Após 500 anos de presença Africana em Portugal, as pessoas negras encontram refúgio na criação utópica de “A Ilha”. Um lugar fundado na história Africana, um local para descansar e criar futuros. Um lugar que reside no espaço entre a ficção e a realidade onde as possibilidades de reescrever histórias e pensar no futuro se encontram por meio das personagens e das suas jornadas.
Um espaço reinventado através do real e do documentário para criar uma obra de ficção que fala das histórias apagadas do passado. A jornada até à Ilha requer uma viagem física e introspectiva para cada uma das personagens, em direção a um estado superior que exige a redenção do passado e a capacidade de imaginar um futuro. A mulher, que foge das memórias do passado ao confrontar os seus carrascos. O arqueólogo que investiga a memória para entender o presente e garantir que os mesmos erros não se repitam na Ilha. O homem capitalista que, na sua eterna insatisfação, reflete sobre como se tornou o opressor, o colonizador. As crianças, que com sua força pura e vital, avigoram todas as outras personagens por meio dos seus sonhos e fantasias.
A ILHA é centrada no reconhecimento das histórias e culturas africanas na sua autonomia e diversidade. Desmantela preconceitos enraizados na sociedade Portuguesa, dando valor e respeito à participação activa e dinâmica de homens e mulheres de origem Africana que viveram e continuam a viver em Portugal, cujas realizações e contribuições são centrais para as histórias dos lugares em que estão integrados hoje. Tece várias histórias a partir de uma perspectiva biográfica feminina que desafia as convenções narrativas patriarcais.
O filme questiona noções padrão de identidade baseadas em categorias de raça e género, por meio de uma contra-narrativa construída pelas complexas biografias que se intersectam. A ILHA situa-se fora do olhar Eurocêntrico, desenvolvido através de uma perspectiva feminista negra, realizando através da sua narrativa a operação do olhar opositor (Bell Hooks), onde representações estereotipadas de género e raça são desconstruídas.
O Sol Não Nasce a Norte
Mónica de Miranda · 2023 · 30’ – 14 out, 17h30
Ao atravessar as margens entre Ceuta (Espanha) e Tânger (Marrocos), um homem e uma mulher descobrem as fronteiras atuais e as arqueologias do passado destas terras que outrora foram uma só e agora existem separadamente.
Náufragos humanos encontram o abismo dessa separação. As pessoas ficam presas num limbo entre a Europa e as florestas inóspitas de Marrocos. Na incessante busca por uma vida melhor, muitos morrem ao atravessar o Mediterrâneo, um mar que se tornou num cemitério de esperanças perdidas não conquistadas. A terra é cortada por arame farpado que não permite a entrada ou saída de pessoas, expulsando e contendo constantemente.
Um casal separado viaja pelo deserto e pelas florestas, vagueando até chegarem à fronteira que divide a África e a Europa. As viagens incitam os personagens a uma profunda reflexão sobre a realidade das suas vidas – de um lado, uma mulher afro-europeia que deseja voltar para a África em busca da sua identidade, e do outro, um homem africano que se desloca em direção à Europa, projetando sonhos de uma terra prometida.
O SOL NÃO NASCE A NORTE é uma busca e um diálogo entre a África e sua diáspora sobre as complexidades contemporâneas da imigração e do deslocamento.