7ª EDIÇÃO
Desde a primeira edição do festival Curt’Arruda que a equipa de organização se dedicou à realização do evento, de forma voluntária, com a missão de promover o cinema e outras áreas artísticas, homenagear o património rural e local, contribuir para a educação e para a proximidade geracional a partir da cultura. Vestimos a camisola, recebemos filmes e pessoas de todo o mundo, e deixámos que o cinema se tornasse real e um marco na cultura local e nacional.
Na 7ª edição, devido à situação pandémica, questionámos a realização do festival, mas acabámos por decidir avançar com base nas diretrizes oficiais das entidades responsáveis. Conscientes da realidade e com o sentido de respeito pelo cinema, a cultura e, acima de tudo, por todos os arrudenses e quem nos visita em tempo de pandemia realizámos um plano de contingência em colaboração e diálogo com a Proteção Civil e com a autoridade de saúde local, onde foram garantidas todas as condições e exigências solicitadas para a realização do evento.
No entanto, após termos recebido um parecer favorável para a realização do festival, foi emitida, já no decorrer do evento, uma atualização desfavorável. Para tristeza de todos nós, fomos forçados a cancelar o festival ao fim do primeiro dia.
De modo a que não seja esquecida, apresentamos aqui a programação prevista para a 7ª edição do Curt’Arruda.
Agradecemos a todos os que acreditaram e acreditam no Curt’Arruda.
O Curt’Arruda tem convidado uma pessoa que admira, para escrever o texto introdutório do catálogo da edição em causa. O ponto de partida tem sido a Ruralidade, Arruda dos Vinhos, e claro, o Cinema. Aquilo com que temos sido presenteados ao longo dos anos, é muito mais do que um simples texto, é uma expressão de amizade, entusiasmo, encantamento, paixão, e tantas outras emoções das quais só podemos estar gratos. Este ano, à semelhança da primeira edição, é a voz do Curt’Arruda que aqui queremos deixar expressa.
Quando estamos perante a inexistência de algo, estamos ao mesmo tempo diante de todas as possibilidades que se nos oferecem, de todo um mundo possível. Portanto, o começo é um momento crucial. É onde colocamos e situamos todo o nosso ser, mesmo com as maiores incertezas quanto ao caminho a percorrer. Assim, em 2014, demos o primeiro passo nesse mundo de possibilidades. Mas mais importante do que o ponto em que nos encontramos hoje, tem sido toda a viagem e aprendizagem coletiva ao vosso lado. Sem o vosso apoio, a semente que lançámos há seis anos não tinha florido e começado a dar os primeiros frutos. Todos juntos, temos tido um papel marcante no cultivar da cultura arrudense.
A criação de uma comunidade e de um sentimento de pertença foi sempre uma prioridade do Curt’Arruda, ao contrário da individualidade e isolamento crescentes na nossa sociedade. Porém, com a pandemia, vivemos um período em que a relação com o outro e a comunidade está a sofrer um forte abalo. Para o Curt’Arruda esse abalo começou a 5 de outubro de 2019 – data de início de um novo ciclo para todos nós. Mas em março deste ano surgiu um abalo diferente. O novo ciclo, é agora duplamente novo. No entanto, a nossa união não se demoveu e continuámos a trabalhar na edição que agora vos apresentamos.
Este é um momento sem precedentes, um presente em sobressalto onde o medo, devido à incerteza e à confusão, ganhou um lugar de destaque. Tudo parece estilhaçado e sem sentido, sobretudo quando se fala num novo normal ou num voltar ao normal. Temos consciência da dupla responsabilidade que nos espera: 1) continuar o legado que o Joel construiu ao nosso lado; 2) respeitar o cinema, a cultura, e acima de tudo, todos os arrudenses e quem nos visita em tempo de pandemia.
O Curt’Arruda não é só cinema. É também vida e algo que se tem tornado cada vez mais relevante para nós, é estar no mundo e estar em casa ao mesmo tempo. Foi aqui, na nossa casa, que já chorámos de alegria diante de um enormíssimo aplauso da vossa parte. Foi também aqui, na nossa casa, num momento impossível de nomear adequadamente, que procurámos refúgio, proteção e conforto. Não escondemos a dor e chorámos juntos a ausência num momento catártico e de superação, que ficará para sempre inscrito em nós.
Se pretendemos com o Curt’Arruda abrir espaço à reflexão e tornar a sala um lugar de transformação, para que possamos voltar ao mundo exterior com os sentidos mais apurados, foi o Joel que nos fez colocar as questões últimas, as questões que nos lançam para fora de nós.
Conhecido pelo seu jogo de luz e sombra, o cinema dá-nos a ver o visível e o invisível que ele próprio contém. Esta dicotomia completa-se no encontro com as nossas imagens mentais e as nossas memórias. Este ano, na organização do festival, muita companhia nos tem feito o invisível, não das imagens, mas do que floresce em nós dia após dia num mistério profundo. Falar de memórias é também falar da sala onde acontece o Curt’Arruda. Não só pelo lado histórico de antigo cinema em Arruda dos Vinhos, mas também por o primeiro passo ter sido dado neste local com a exibição do filme A Tua Última Morada (em jeito de confidência, o Joel chamava-lhe atum, e para nós, olhar uma lata de atum nunca mais foi a mesma coisa).
Deste modo, a memória está intimamente presente no novo ciclo do Curt’Arruda. No entanto, podemos acrescentar a ideia de família e de renascimento, presentes na identidade gráfica desta edição. Vemos fotografias, pessoas, gestos, vemos o tempo e vemos a terra, elemento tão caro à ruralidade e que ganhou um novo valor – o da felicidade. É nesta comunhão de indivíduos com a natureza que queremos lutar e estar engajados num compromisso para com a vida na terra e a vida da terra. Mas vemos mais, vemos a família do Joel, a quem gostaríamos de dedicar a edição deste ano.
Curt’Arruda
Apesar do cancelamento inesperado do 7º Curt’Arruda, não queremos deixar de parte a missão do festival enquanto plataforma de promoção do cinema e do trabalho de realizadores, produtores, técnicos e de todos aqueles que neste momento tão difícil, continuam a fazer filmes e a contribuir para a continuidade do cinema.
Neste sentido, e considerando que o júri – Maria João Luís, Pedro Florêncio e Vasco Gargalo – já tinha deliberado sobre os filmes a concurso, mesmo que não tenham sido exibidos na sua totalidade, o Curt’Arruda faz questão de, ainda assim, atribuir o Prémio Curt’Arruda.
O júri decidiu atribuir o Prémio Curt’Arruda – Melhor Curta-metragem Rural ao filme “A Vendedora de Lírios” de Igor Galuk. – “Em A Vendedora de Lírios, a grande surpresa desta programação, tomamos contacto com uma das mais portentosas origens do cinema, na qual o real e os enquadramentos se relacionam como num jogo de corpo a corpo. Neste filme, que é simultaneamente um documento precioso e uma aventura lírica de todos os dias, assistimos à lenta marcha de um jogo cénico do real, no qual a inversão de olhares entre duas gerações culmina num fraterno gesto de cuidado, como nas mais comoventes imagens herdadas dos melhores neo-realismos. Filme feito de rostos, pessoas e gestos — em suma, de índices do real —, é na sua sublime quotidianidade que se sustentam inesquecíveis imagens, sobretudo pela — e não apesar da — sua depuração e simplicidade narrativa.”
O júri destacou ainda o filme “ELO” de Alexandra Ramires (Xá) com uma Menção Honrosa. – “Já em Elo, o mundo e as coisas que conhecemos — ou julgamos conhecer — surgem transfiguradas numa surpreendente dialéctica entre a maravilha e o assombro de um mundo nocturno desconhecido. Feito da mistura de coisas que ora percebemos, ora julgamos perceber, é no (in)orgânico gesto de ligação entre dois seres (para citar uma também bela e obscura obra de Carl Dreyer) que todas as distâncias ‘naturais‘ se diluem. Talvez mais do que um exercício de surrealismo, este objecto anti-naturalista por excelência constrói, através dos elementos de uma enorme criatividade temática e formal, uma valiosa ponte de acesso à necessária e urgente sensação de familiarização com a estranheza do Outro.”
“Os dois filmes premiados aproximam-se mais do que à primeira vista pode parecer. Ambos constatam, directa ou indirectamente, a dureza da crise social e humana que enfrentamos — ou, quem sabe, que nunca deixámos nem deixaremos de ter de enfrentar. Em ambos os universos — o diurno e o nocturno — é de sobrevivência que se fala. Em tempos de fronteiras, muros e outras modalidades emergentes de distância social, estes dois filmes aparentemente diferentes, mas na verdade tão complementares, formam os dois lados de uma mesma moeda que o cinema ainda tem o poder de pôr em circulação. Uma moeda forjada pelos gestos do cuidado e do reconhecimento com o Outro — um cinema da comunhão.”
Agradecemos a participação de todos os realizadores e ao júri por todo o contributo para mais uma edição do festival.
CICLO REALIZADOR CONVIDADo
casota collective
A Casota é uma produtora audiovisual que atua como um estúdio criativo e multidisciplinar onde se produzem vídeos, música, discos, fotografia e artwork.
Com os seus estúdios em Leiria, foi formada no final de 2016 por quatro grandes amigos, Miguel Ferraz, Pedro Marques, Rui Gaspar e Telmo Soares.
Com vários trabalhos já premiados, a nível nacional e internacional, destacam-se os prémios para os vídeos “First Breath After Coma – Nagmani (ft. Andre Barros)” e “Nice Weather For Ducks – On The Sand By The Sea” no Festival MUVI (Festival Internacional de Música no Cinema), assim como a nomeação do álbum de estreia da artista Surma, para o prémio disco independente europeu do ano pela Impala – Associação de Empresas de Música Independente, álbum produzido no estúdio da Casota em 2017. Em 2018 o vídeo “Whales – Ghost” fez parte da seleção oficial do Berlin Music Video Awards, um dos festivais mais prestigiados do meio na Europa. Em 2019 destaca-se o álbum visual “NU” dos First Breath After Coma, premiado em vários festivais internacionais como o Mindfield Film Festival – Los Angeles; o Close:Up Reykjavik Film Festival; o Berlin Flash Film Festival; e o Rome Independent Prisma Awards.
Júri
MARIA JOÃO LUÍS
Iniciou a sua atividade como atriz em 1985 no grupo de Teatro A Barraca em Um dia na Capital do Império, Um Homem é um Homem, Fernão Mentes?, O Diabinho da Mão Furada e O Baile encenações de Helder Costa. Trabalhou depois no Teatro da Casa da Comédia, ACARTE, T. da Malaposta, Comuna e TNDM II e com: Filipe La Féria, Rui Mendes, José Peixoto, Stephen Jurgens, João Mota, Cristina Carvalhal e Ana Luísa Guimarães. No Teatro da Cornucópia participou em Antes que a noite venha de Eduarda Dionísio encenação de Adriano Luz, A Comédia de Rubena de Gil Vicente, Tito Andrónico de Shakespeare e Um Homem é um Homem de B. Brecht encenações de Luís Miguel Cintra. Nos Artistas Unidos, Hedda, Doce Pássaro da Juventude e A Noite da Iguana de Tennessee Williams e o monólogo Stabat Mater de António Tarantino com encenação de Jorge Silva Melo, peça Prémio da Crítica 2006 da Ass. dos Críticos de Teatro e a nomeação para um globo de ouro. Interpretou várias peças de teatro na televisão com direção de Ferrão Katzenstein, Artur Ramos, Cecilia Neto e Luís Filipe Costa. Recebeu, em 2003, o Prémio de Melhor Atriz no Festival de Curtas-metragens de Badajoz, com o filme Crónica Feminina, de Gonçalo C. Luz. Participou, no cinema, em filmes de Sérgio Godinho, Fernando Matos Silva, Teresa Villaverde, Beatrice Chantal, João Botelho, Elsa Bruxelas, Jorge Marecos, Paulo Rebelo, Jorge Cramez, José Nascimento, Jorge Silva Melo e Luís Filipe Rocha. Funda em 2009, com Pedro Domingos, o Teatro da Terra onde assume a Direção Artística e encena: A Casa de Bernarda Alba de Federico Garcia Lorca; Cal de José Luís Peixoto; A Maluquinha de Arroios de André Brun; A Lua de Maria Sem de João Monge; O Marido Vai à Caça de Georges Feydeau; O Ciclista a partir de Karl Valentin; Chão de Água de João Monge; Reveillon de vários autores; Ninguém se Ouve, Ninguém se Vê, a partir de A Gaivota de Anton Tchékhov; Amarrada à tua mão de José Fialho Gouveia; A Abetarda de João Monge; Na Solidão dos Campos de Algodão de Bernard-Marie Koltès; A Menina do Mar de Sophia de Mello Breyner; Um Conto de Natal, de Charles Dickens; O Cravo Espanhol de Romeu Correia; A Ilha, a partir de Samuel Beckett e Maurice Maeterlinck; Finisterra de Carlos de Oliveira, a partir de Carlos de Oliveira; 150 Milhões de Escravos, a partir de Esteiros de Soeiro Pereira Gomes; A Flôr da Honestidade, conto oriental de autor desconhecido; Alice no País das Maravilhas, a partir de Lewis Carroll.
PEDRO FLORÊNCIO
Tem 31 anos, é natural de Lisboa e faz do cinema um modo de vida. Para além de realizador, lecciona “História do Cinema” na licenciatura em Ciências da Comunicação da Universidade Nova de Lisboa e “Documentário” na ETIC (Escola de Tecnologias Inovação e Criação). Também é investigador no CEC (Centro de Estudos Comparatistas) da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Realizou, em 2011, a curta-metragem “Banana Motherf*ucker”, que recebeu diversos prémios internacionais. Em 2014, realizou “Onde o meu amigo pintou um quadro”, exibido em vários festivais nacionais e internacionais desde então. Em 2017, realizou a média-metragem “À Tarde”, que recebeu o Prémio Especial do Júri na Competição Nacional do DocLisboa 2017. “Turno do Dia” é a sua primeira longa-metragem e estreou no DocLisboa 2018.
VASCO GARGALO
Nasceu em Vila Franca de Xira em 1977. Cartoonista editorial da Revista Sábado, Revista de Domingo (Correio da Manhã), Jornal Público, Jornal Expresso e Courrier Internacional entre outras publicações nacionais e internacionais.
Cartoonista residente do The Cartoon Movement, membro da Associação Cartooning for Peace e The United Sketches desde 2015.
Participa em exposições e concursos internacionais, recebeu várias distinções, recentemente recebeu o Prémio do Público do Melhor Desenho de Imprensa da Courrier Internacional em Estrasburgo “Plumes Libres pour La Démocratie” em 2019. Foi distinguido noutros concursos internacionais, onde se destacam, Menção Honrosa na categoria de Caricatura no World Press Cartoon em 2018, premiado com o 2º lugar 57ª Internacional Cartoon Festival Knokke-Heist na Bélgica em 2018. Em 2017, foi considerado pelo Cartoon Home Network International como o melhor Cartoonista Europeu, recebeu Sucess Award no 34º Concurso Internacional Aydin Dogan na Turquia, na 19ª edição do PortoCartoon World Festival foi premiado com o 3º lugar na categoria de Caricatura (António Guterres). Em 2016, recebeu uma Citação de Excelência no Concurso Internacional de Cartoons das Nações Unidas – Ranan Lurie Political Cartoon Award. Em 2019, recebeu o Prémio Stuart de Desenho de Imprensa na categoria de Caricatura, El Corte Inglês/ Casa da Imprensa.
SESSÃO COM OS PÉS NA NATUREZA – INDIEJÚNIOR
O BANDO À PARTE NO CURT’ARRUDA
SELEÇÃO OFICIAL CURT’ARRUDA
SELEÇÃO OFICIAL FILM’ARRUDA
MOSTRA
CINECONCERTO
Joana Ramos (Arruda dos Vinhos, 1994). Licenciou-se em Arte Multimédia na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e fez o Curso Avançado de Fotografia na Ar.Co. Tem mestrado em Filosofia, especialização em Estética, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas na Universidade Nova de Lisboa.
Um espetáculo produzido pelos Músicos do Silêncio um ensemble de 4 instrumentistas que acompanham o filme com música composta pelo próprio Charlie Chaplin, tendo, no entanto, pequenos apontamentos artísticos, cómicos ou eruditos, da autoria do ensemble.
Agradecimentos
Acácio Raimundo, Adega Cooperativa de Arruda dos Vinhos, Alexandra Ramires “Xá”, Ana Correia, Ana Maria Ramos, Ana Marta Pereira, Ana Loureiro, Anabela Gonçalves, André Rijo, António Fernandes, António Vale, Augusto Salgueiro, Bando à Parte, Beatriz Roque, Bruno Rato, Câmara Municipal de Arruda dos Vinhos, Carolina Roque Ribeiro, Catarina Pereira Célia Martins, Cláudia Jaleco, Clube Recreativo Desportivo Arrudense, Daniela Assis, David Braga, Débora Ribeiro Sarmento, Filipe Pedro, Embaixada da Áustria, Fitness Factory Arruda dos Vinhos, Gonçalo Santos, Guilherme Duarte, Guilherme Gaspar da Silva, Indie Junior, Inês Bruno, Inês Vasa, Irina Raimundo, Joana Ramos, João Gouveia, João Oliveira, João Paulo, José Manuel Silva, Luís Coelho, Luís Silva, Mafalda Melo, Márcio Pereira, Maria Ana Fonseca, Maria João Luís, Mercearia do Prato, Miguel Oliveira, Mónica Campos Reis, Nelson Branco, Nuno Moreira, Nuno Serreira, Papelaria Relíquia, Patrícia Amaral, Patrícia Simões, Paulo Resende, Paulo Viduedo, Pedro Florêncio, Pedro Mendes da Silva, Proteção Civil de Arruda dos Vinhos, Rancho Folclórico Podas e Vindimas, Rafael Nascimento, RTP – Rádio e Televisão de Portugal, Rute Miriam, Samuel Outeiro, Sebastião Sarmento, Sóraia Paulino, Teresa Vieira, Tiago Costa, Tiago Marques, Yesolutions, ValePRO, Vasco Gargalo, Pippin.